terça-feira, 9 de outubro de 2012

De cobradora de ônibus a operária: a saga de uma sertaneja na Arena PE. Cilene Inácio Vanderlei, de 30 anos, encontrou nas obras do estádio uma forma de sustentar a família e escapar das agressões do ex-marido


A vida que Cilene Inácio Vanderlei, de 30 anos, levava não é mais a mesma. Natural de Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, a pernambucana aprendeu desde cedo a superar as durezas de sua terra, distante 420 quilômetros do Recife. De cobradora de ônibus, ela decidiu estudar para o magistério e acabou se tornando professora. Mas a desvalorização profissional e a necessidade de sustentar os dois filhos a fez mudar procurar uma nova profissão. Cilene resolveu abandonar o Sertão e acabou encontrando na Copa do Mundo de 2014 uma alternativa rentável. Ela foi a primeira mulher operária a trabalhar no canteiro de obra da Arena Pernambuco.
Cilene Inácio Vanderlei (Foto: Terni Castro / GloboEsporte.com)Cilene Inácio Vanderlei foi a primeira operária mulher da Arena PE (Foto: Terni Castro / GloboEsporte.com)
Cilene lembra que passou por vários percalços antes de se estabelecer de forma estável no emprego de carpinteira. Hoje, a pernambucana comemora o fato de ter saído do fundo do poço para galgar um espaço no mercado de trabalho que antes era restrito aos homens e garantir um futuro melhor para os dois filhos, um de cinco e outro de sete anos de idade.
- Durante seis anos fui cobradora enquanto fazia meu magistério. Quando terminei, virei professora municipal, mas a necessidade era grande por uma vida melhor. A necessidade faz você fazer de quase tudo e foi aí que entrei no ramo da carpintaria. Tudo pensando nos meus filhos.
A necessidade faz você fazer de quase tudo. Tudo pensando nos meus filhos."
Cilene Inácio
Cilene se especializou através de um curso promovido pela atual construtora responsável pelas obras na Arena e começou a dar os primeiros passos na carpintaria na construção da ferrovia Transnordestina, que passava por Serra Talhada. Pouco tempo depois, foi chamada para se juntar ao grupo da Arena Pernambuco e não pensou duas vezes: deixou a vida antiga para trás e veio com os filhos para o município de Moreno, a cerca de 28 quilômetros do local onde está sendo erguido o estádio que irá receber os jogos do Mundial.
- Eu cheguei até a sofrer agressões do meu marido. Quando ele fez uma viagem a Aracaju, decidi sair de casa de vez e o avisei. Batalhei muito para chegar até aqui (na Arena), vim para cá somente com a roupa do corpo. Hoje estou fazendo por onde.
A pernambucana rumou para seu novo emprego sem nenhum apoio do antigo marido. Mas, criar os filhos sozinha deu mais força a Cilene, que terminou dando um salto na carreira. Como carpinteira, ela começou ganhando cerca de R$ 500, que logo se transformaram em mais de R$ 1,2 mil por mês após um ano e meio de trabalho.
arena pernambuco (Foto: Terni Castro / GloboEsporte.com)Arena espera ficar pronta para receber a Copa das
Confederações (Foto: Terni Castro)
A sertaneja batalhadora, inclusive, teve de passar por muita desconfiança e brincadeiras dos companheiros, mas ela garante: não se deixou abalar, e ,com muito bom-humor e dedicação, conquistou seu espaço.
- Às vezes os meninos vinham para brincar comigo, aborrecer. Mas eu mandava logo eles saírem. Não dou asa mesmo – brinca.
Os olhos fundos de quem já batalhou muito na vida demonstram ao mesmo tempo o brilho da força em continuar seguindo em frente. Cilene resolveu esquecer de vez o magistrado para investir na carreira como operária, que já a ofereceu a condição de matricular os dois filhos em uma escola particular. O fato de poder ajudar na construção de um estádio que servirá para uma Copa do Mundo é também um grande estímulo à pernambucana.
- Fico até sem palavras para descrever como me sinto. O que posso dizer é que isso é motivo de orgulho e muito esforço e dedicação.

Do G1 PE.

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