Nesta 20° edição do Abril Pro Rock, que ocorre neste fim de semana, no Recife, o público vai poder conhecer uma forma da expressão musical que nasceu entre jovens angolanos a partir dos anos 1980 e vem ganhando, mesmo que de maneira meio distorcida, fama no Brasil: o kuduro. Os Buraka Som Sistema, banda de origem portuguesa, cuja sonoridade se integra no gênero africano, vem ao Brasil exclusivamente para se apresentar no festival, neste domingo (22) - ano passado, eles tocaram no Rock in Rio.
Quem já conhece o grupo, atualmente formado pelos portugueses J-Wow e Riot, os angolanos Kalaf e Conductor, além da colaboradora Blaya, sabe que o som deles não tem muito a ver com aquele hit baiano do carnaval 2009 que fez bastante gente, primeiro, rir do nome e, depois, remexer os quadris: “Kuduro”. Lembra? “Você vai assim, você vai assim, você assim...” Aquilo não era rap, aquilo não era samba e aquela mania também não vinha de Luanda, capital da Angola, na África. Aquela versão estava mais próxima do pagode e do axé.
Passou o tempo e as pistas de dança começaram a “bombar” em 2011 com “Danza Kuduro”, do cantor de reggaeton portorriquenho Don Omar com o português Lucenzo. Lembra? “La mano arriba, cintura sola, da media vuelta, danza kuduro.” O cantor Latino aproveitou o sucesso e fez a sua versão, “Dança Kuduro” - mas não não é Latino quem canta o tema de abertura da novela “Avenida Brasil”, da Rede Globo. As vozes da canção “Vem Dançar com Tudo” são de Robson Moura e Lino Krizz. Não se engane: ela também não é kuduro original. Ali, são dançarinos de 'charme' rebolando. No site da novela, o professor de dança Dudu Neves explica que, “tradicionalmente falando, o charme é uma vertente da black music, conhecida lá fora como R&B, e apelidada pelos brasileiros como charme”.
Deu um nó na cabeça? João Barbosa (J-Wow) te entende. “Acho que existe uma ideia totalmente errada do kuduro no Brasil. O kuduro sempre foi eletrônico. Na realidade, o kuduro é a expressão musical de jovens angolanos, que cresceram com a música tradicional angolana, e, em dado momento, decidiram aplicar as suas raízes e criar música de dança com um computador e usando também elementos clássicos do tecno, house, etc. O fato de uma banda do Nordeste ter feito uma canção que usa o termo kuduro no refrão não muda a gênese de um gênero”, falou e disse, em bom português de Portugal.
E os Buraka Som Sistema são fiéis ao gênero? Eles são apelidados como fundadores do novo som eletrônico kuduro progressivo. “A expressão ‘kuduro progressivo’ inventamos só para rir um pouco do fato de que todo o gênero tem uma versão ‘progressiva’, nada muito sério. Acho que já temos [a nossa] música espalhada um pouco por todo o lado e penso que, quando as pessoas vão ver o Buraka, já sabem exatamente o que esperar”, comentou.
J-Wow adianta que o show no Abril Pro Rock será bem dançante, para cativar o público logo de cara, usando ritmos de todo o mundo. “O repertório já está definido e passa um pouco pelos dois discos do grupo, com algumas brincadeiras e bootlegs [gravações ‘piratas’] pelo meio”, contou. Os álbuns citados são Black Diamond (2008) e Komba (2011). Os primeiros singles da banda "Yah" e "Wawaba", lançados entre 2006 e 2007, devem estar no set list, assim como "Hangover (BaBaBa)” e "(We Stay) Up All Night", de 2011.
Apresentação que também promete ser bem sensual, se seguir a linha do show feito no Rock in Rio. Naquela ocasião, o grupo convidou mulheres da plateia para rebolar no Palco Sunset, que ficou parecendo um verdadeiro baile funk. A dança de Angola é mesmo de um molejo incrível e os mais caretas podem até achar pornográfico.
Quem ficou curioso sobre o nome da banda, J-Wow explica que eles queriam batizá-la com alguma referência à Lisboa, mas como quase todos os integrantes viviam em Amadora, uma cidade no subúrbio da capital, acharam engraçado escolher uma de suas freguesias e Buraca foi a que soou melhor. Trocaram o c pelo k e pronto. Já o Som Sistema é meio que uma tradução literal do termo sound system.
E antes mesmo de subir ao palco, J-Wow já deve ganhar alguns fãs ao comentar que os integrantes da banda sempre foram grandes admiradores da Nação Zumbi, banda pernambucana que integrou a comissão de frente do Movimento Manguebeat, nos anos 1990. Assim como os Buraka buscam valorizar o som da antiga colônia, a Nação Zumbi também trabalha em sua musicalidade as raízes africanas do Brasil. Ambos ainda incrementam as canções com temáticas sociais. Parece que a verdadeira essência do kuduro está bem preservada com eles.DO GI PE .



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